INCLUSÃO ALIMENTAR NA PRÁTICA

Heloíze tem um depoimento fantástico para dar no tema da inclusão alimentar nas escolas. Ela conta como, junto com outras famílias, vem trabalhando para garantir o direito à inclusão alimentar nas escolas da região. E segue na luta para que os bons frutos desse trabalho coletivo reverberem e transcendam o município de Piraciacapa. Por mais Helôs nesse mundo!

“Eu queria dar um depoimento sobre inclusão de crianças alérgicas, ou com outras necessidades nutricionais nas escolas.

Sou mãe de dois alérgicos a múltiplas proteínas, a mais velha também com suspeita de doença celíaca.

Nos últimos 6 anos eu tenho encampado a briga pela inclusão de forma ampla no município onde moro, Piracicaba/SP.

Pra começo de conversa, lá em 2014 quando fui procurar uma escola, achei que era mais seguro uma escola particular e, depois de muitas negativas, finalmente consegui matricular. Porém, a experiência não foi como eu imaginava. Embora eu tenha escolhido uma escola “inclusiva” com uma pedagogia menos tradicional, o espaço de diálogo ficou esgotado, em dois anos, após inúmeras conversas, reuniões, avanços e retrocessos.
No fim das contas, é mais fácil incluir no discurso que na vida prática…

Mas, como nenhum esforço é em vão, foi a partir dessa experiência que eu e a Nielle, Talita e Érica fundamos o Coletivo Acolhimento Alimentar que nasceu com o objetivo de discutir a questão da inclusão de crianças e jovens que convivem com necessidades alimentares especiais (NAE) dentro e fora da escola. Com o Coletivo, nasceu também a Semana de Conscientização da Alergia Alimentar de Piracicaba, fruto de milhares de horas de diálogo com a Cecilia Cury e a Fernanda Mainier Hack e com a parceria da Câmara de Vereadores de Piracicaba.

Foi nesse turbilhão de acontecimentos que meus filhos passaram a frequentar a escola pública municipal, onde, em 2017 ainda não havia atendimento adequado para crianças NAE. E foi nesse momento que eu comecei a aprender (e ainda estou aprendendo) a mexer nas estruturas da cidade e reivindicar aquilo que é direito de todas as crianças: alimentação escolar segura, saudável, adequada e inclusão pedagógica e social.

Fruto de uma imensa chatice (leia-se insistência, persistência, denúncias, reclamações, reuniões) do nosso Coletivo, da visibilidade trazida pela Semana de Conscientização, do apoio da Ester em várias questões e de um diálogo intenso com o CAE (cujo trabalho foi e é fundamental em cada município brasileiro), que a demanda das NAE foi acolhida pela municipalidade. Em 2019, foi realizada a primeira grande aquisição de alimentos especiais com os recursos do PNAE na rede municipal, atendendo mais de 500 crianças nas unidades escolares onde também foram adotadas práticas para manipulação segura nas cozinhas e tem havido capacitação para práticas pedagógicas seguras e inclusivas.

Vocês podem imaginar a felicidade em participar de uma festa junina aberta ao público, numa escola com 600 crianças, onde alimentos adequados para crianças NAE foram produzidos e tudo isso tudo na rede pública de ensino?

Foram muitos avanços, mas é claro que o trabalho não se esgota e precisa de constante aperfeiçoamento e vigilância.

Nesse ano de 2020, as conquistas que foram obtidas no município precisam ser expandidas para as escolas do Estado. É a nova realidade e ela será enfrentada (já está sendo).

Viver a alergia alimentar me mudou enquanto pessoa, ampliou minha percepção do outro e daquilo que é uma luta coletiva pelo direito de existir e viver em sociedade. São batalhas que eu, enquanto mãe e cidadã, quero enfrentar.

Eu queria com esse relato dizer que é possivel. E se você aí ta sozinha na luta, desamparada pela dificuldade e está pensando em desistir, continua. Continua.
Se precisar de ajuda com os caminhos um ombro amigo, tamos aqui!”