Com base em argumentos frágeis e referências anteriores ao próprio Guia Alimentar para a População Brasileira (Guia), Nota Técnica do Ministério da Agricultura (MAPA) está pedindo a revisão do Guia. Isso tudo no meio deste contexto pandêmico, para lá de adverso.
O Guia representa uma importante conquista no âmbito da saúde pública ao trazer, de modo acessível para a população, ferramentas para escolhas alimentares mais conscientes e informadas – incluindo um resumo indicando 10 passos para uma alimentação saudável, dentre os quais recomenda-se a priorização dos alimentos in natura e evitar os alimentos com alto grau de processamento – não por desconfiar da técnica, mas pelo que a ciência mostra sobre o impacto à saúde de produtos com alto grau de processamento.
Outro aspecto de extrema relevância trazido pelo Guia é o convite para que as pessoas sejam críticas em relação à publicidade e aos dizeres na rotulagem, especialmente em relação à publicidade em produtos classificados como ultraprocessados:
“A publicidade desses produtos explora suas alegadas vantagens diante dos produtos regulares (“menos calorias”, “adicionado de vitaminas e minerais”), aumentando as chances de que sejam vistos como saudáveis pelas pessoas”.
É natural que, de tempos em tempos, haja a revisão de guias, para seu aprimoramento, mas isso precisa ser feito quando há novas evidências, com o foco voltado ao futuro – e não para o retrovisor.
Temos a expectativa de que referida nota seja revogada e, se assim não for, que o Ministério da Saúde rejeite o pedido subscrito pelo MAPA, ao reconhecer a fragilidade do pedido, de sua fundamentação – as críticas à fragilidade da Nota podem ser encontradas na manifestação do NUPENS/USP – e a falta de oportunidade real de debate em razão do cenário que estamos vivendo em razão da pandemia do Covid-19.
Aliás, não à toa, o nosso Guia inspirou a atualização do guia alimentar canadense, o qual reconhece que o consumo regular de alimentos com excesso de sódio, açúcar e gordura saturada está relacionado com as doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, hipertensão, câncer, dentre outras – todos fatores de risco de agravamento dos sintomas de eventual infecção por covid-19, não custa dizer!